Relatório mostra efeito devastador da Covid-19 na resposta à tuberculose

Mapa da tuberculose no mundo. Fonte: Parceria STOP TB

Mais 6,3 milhões de pessoas doentes com tuberculose e mais 1,4 milhões de mortes pela doença até 2025. Duração da quarentena, restrições de movimentos e interrupção dos serviços de combate à tuberculose podem representar um desastre para centenas de milhares de pessoas em risco.

Um novo relatório divulgado nesta segunda-feira (11) conclui que a resposta global à pandemia da Covid-19 está levando consequências não intencionais mas drásticas sobre os serviços de tuberculose (TB), prevendo-se que o número anual de casos de TB e de mortes por TB nos próximos cinco anos aumentem e que se percam pelo menos cinco anos de progressos na resposta à TB.

A análise de modelação divulgada pela Parceria Stop TB mostra que, com um confinamento de três meses e uma recuperação prolongada dos serviços de 10 meses, o mundo poderia registar mais 6,3 milhões de casos de TB entre 2020 e 2025 e mais 1,4 milhões de mortes de TB durante esse mesmo período. “Nós nunca aprendemos com os erros. Durante os últimos cinco anos, a tuberculose, uma doença respiratória, continuou a ser a infecção mais mortal no que diz respeito a doenças infecciosas porque a ‘agenda da tuberculose’ tornou-se consistentemente menos visível diante de outras prioridades”, afirmou Lucica Ditiu, Diretora Executiva da Parceria Stop TB. “Hoje, os governos enfrentam um caminho tortuoso, navegando entre a iminente catástrofe da Covid-19 e a longa praga da tuberculose.”

Mas optar por ignorar novamente a tuberculose apagaria pelo menos meia década de progressos arduamente ganhos contra a infecção mais mortal do mundo e fariam adoecer mais milhões de pessoas. O novo estudo foi encomendado pela Parceria Stop TB em colaboração com o Imperial College, a Avenir Health e a Johns Hopkins University, com o apoio da USAID. A modelação foi construída com base em suposições extraídas de uma rápida avaliação feita pela Parceria Stop TB sobre o impacto da pandemia da Covid-19 e das medidas relacionadas com a resposta à TB em 20 países com um índice elevado da doença – representando 54% dos números globais da TB. A modelação centrou-se em três países com índices elevados de TB – Índia, Quénia e Ucrânia – e extrapolou estimativas desses países para criar estimativas globais do impacto da COVID-19 na tuberculose.

Os autores observam que o modelo pode ser reproduzido em qualquer outro país e que os resultados podem ser utilizados pelos países para a tomada de decisões e pedidos financeiros com base em dados. A tuberculose é uma doença respiratória esquecida que ainda mata 1,5 milhões de pessoas por ano, mais do que qualquer outra doença infecciosa. A incidência e as mortes devidas à TB têm diminuído de forma constante nos últimos anos, como resultado da intensificação das atividades dos países mais sobrecarregados para encontrar precocemente as pessoas com TB e proporcionar-lhes um tratamento adequado. Em 2018, durante a reunião de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) sobre a tuberculose, os chefes de Estado e de Governo comprometeram-se a aumentar significativamente a resposta à tuberculose.

Em 2018, isso resultou em identificar 600.000 pessoas adicionais que poderiam ter acesso aos cuidados relacionados com a TB. Em 2019, também foi observado um progresso muito promissor. A pandemia da Covid-19, considerando as medidas de abrandamento implementadas, provou ser um grande retrocesso na conquista dos objetivos da AGNU, dado que a detecção de casos da TB diminuiu drasticamente, os tratamentos foram adiados muitas vezes e o risco de interrupção do tratamento e aumento potencial de pessoas com TB resistente aos medicamentos também foi elevado exponencialmente. De acordo com o novo estudo, com um confinamento de três meses e uma recuperação prolongada de 10 meses dos serviços, a incidência global de TB e as mortes em 2021 aumentariam para os níveis observados pela última vez entre 2013 e 2016, respectivamente, implicando um retrocesso de, pelo menos, cinco a oito anos na luta contra a TB. Para minimizar o impacto da pandemia da Covid-19 na tuberculose, salvar milhões de vidas e colocar o mundo de novo no bom caminho para alcançar as metas da AGNU, os governos nacionais precisam tomar medidas imediatas que garantam a continuidade dos serviços de diagnóstico, tratamento e prevenção da tuberculose durante o período de confinamento e efetuar um esforço maciço de recuperação para diagnosticar, rastrear, tratar e prevenir ativamente a tuberculose.

A Parceria Stop TB e outros parceiros apelam à liderança de todos os países – particularmente aqueles com um índice elevado da TB – para garantir a continuidade da resposta à TB em tempos de Covid-19, para tomar medidas proativas que incluam os mais vulneráveis e fornecer proteção contra dificuldades econômicas, isolamento, estigma e discriminação. Apelamos aos governos para que garantam os recursos humanos e financeiros necessários para a continuação sem interrupções dos serviços de combate à tuberculose no âmbito da resposta à Covid-19. Reconhecendo que esta é uma situação sem precedentes, a Parceria Stop TB continua a apoiar os programas e parceiros nacionais de combate à tuberculose através das suas múltiplas plataformas técnicas, inovadoras e centradas nas pessoas.

Para garantir o acesso aos recursos da TB e Covid-19, a Parceria Stop TB está compartilhando ações, experiências e recomendações de países e parceiros por meio de uma página dedicada à TB e à COVID-19 e publicou recentemente mapas interativos com situações de TB e Covid-19 em vários países.

Fonte: Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em Tuberculose no Brasil

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