Jesus Cristo pede menos estigma contra as PVHA

Jesus Cristo volta à mensagem 'amai-vos uns aos outros' em card da Gestos

Em campanha da Gestos, Fred Mercury, Frida Khalo, e Mandela estão entre as personalidades engajadas contra o preconceito e a discriminação às PVHA

“O amor está na essência do ser humano. Mas se estivesse aqui, em verdade, eu vos diria: nada de estigma e preconceito com quem vive com o HIV e a AIDS”, pede Jesus Cristo em 2021, segundo imagina a Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero, ONG/aids de Recife, que lançou ontem uma campanha com ícones da cultura global contra o estigma, o preconceito e a discriminação às pessoas vivendo com HIV ou doentes de aids (PVHA).

A campanha foi lançada nesta terça-feira (31), durante a entrega das recomendações do 2º Comunicaids ao diretor do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI), dr. Gerson Fernando Mendes Pereira.

Construído coletivamente por ativistas profissionais de comunicação de todo o País, o documento aponta a necessidade de uma comunicação baseada em evidências, que estimule afetos (de solidariedade e esperança) e promova direitos.

As recomendações foram elaboradas sob três perspectivas centrais: 1 – a aids não é uma doença superada no Brasil, o que implica em enfrentar os desafios agravados pela covid-19, ainda com maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde; 2 – não se pode negligenciar políticas públicas em comunicação diante de um contexto de desinformação generalizada, disseminada inclusive por órgãos públicos e autoridades nacionais; e 3 – que os meios de comunicação – principalmente os digitais – são espaços de disputas de opinião e narrativas, tornando a participação social fator primordial para a construção de estratégias coletivas de enfrentamento aos dois vírus.

“Recomendamos ao Ministério da Saúde que valorize o acúmulo das organizações da sociedade civil (OSC) na comunicação em saúde, evitando a concepção de grupos de risco e fomentando as participações das comunidades e dos públicos na construção dessas estratégias comunicacionais”, disse Alessandra Nilo, coordenadora geral da Gestos e co-facilitadora do GT Agenda 2030 no Brasil. “Pedimos que o MS volte a reorientar sua comunicação a partir dos direitos humanos e dos princípios do SUS. Para que isso aconteça, precisamos voltar a trazer temas que sejam essenciais para a resposta ao HIV e à covid-19 – como as questões ligadas ao racismo estrutural, equidade de gênero e o respeito à diversidade e aos direitos como um todo.”

Algumas das recomendações giram em torno do financiamento de ações locais promovidas pelas ONG/aids e media training de ativistas como forma de intervenção social em saúde; bem como a utilização de linguagens inclusivas e o protagonismo das PVHA, além da implementação de estratégias de informação sobre o HIV e a covid-19 em espaços públicos e comunitários de saúde. “Uma dessas estratégias consiste em aproveitar esse momento em que o SUS tem uma valorização momentânea – em função da vacinação de forma ampla – para incluir as pautas de aids como uma resposta de sucesso pretérito e desafios presentes”, destacou o jornalista, professor e ativista, Liandro Lindner.

Na entrega do documento, o diretor do DCCI se disse ansioso para tê-los em mãos, pontuando que “o aporte que essa reunião nos dará é importante para que a gente possa, de fato, escolher a melhor forma de comunicar sobre os agravos do HIV/aids para as populações que temos como prioritárias”.

Diante da atual conjuntura política nacional, o representante da Articulação Nacional de Luta contra a Aids (Anaids) no Conselho Nacional de Saúde, Moysés Toniolo, avaliou que “as pautas mais importantes para nós, do movimento social de luta contra a aids – como a garantia dos direitos humanos e, principalmente, direitos sexuais e direitos reprodutivos das pessoas em vulnerabilidade –, precisam ser tratados sem ideologias que tentam reverter as questões de gênero e sexualidade. Precisamos falar de prevenção numa perspectiva ampliada e não mais minimalista; precisamos falar de promoção de saúde!”, afirmou o conselheiro nacional de saúde.

“Neste sentido, a comunicação que se move de forma estratégica e colaborativa é fundamental para superar as barreiras sociais e realmente ajudar nas transformações que necessitamos na sociedade”, disse Claudia Velasquez, diretora e representante do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) no Brasil, que também pretende interiorizar as estratégias apresentadas ao Ministério da Saúde.

Agora, o próximo passo é a incorporação dessa agenda pelo Conselho Nacional de Saúde. O movimento de luta contra a aids e as ONG estão à disposição para colaborar com o Ministério da Saúde na implementação dessas recomendações. A lista também será traduzida para o inglês e o espanhol, a fim de internacionalizar as proposições.

A campanha
Um reflexo das recomendações que compõem o documento enviado ao MS pode ser vistas nas campanhas institucionais produzidas pela Gestos neste ano. Todas estão interligadas pelo mesmo conceito: a conjugação dos verbos “proteger”, “tratar” e “respeitar”; cada verbo, marca uma nova campanha, todas conectadas pelo slogan: “A Gestos orienta, o SUS garante”.

primeira campanha, lançada em 12 de junho, aproveitou o Dia dos Namorados para enfatizar que o cuidado (consigo e com x parceirs) é um gesto de amor e de prazer sexual. Abordando o tema da Prevenção Combinada, a campanha buscou estimular o autocuidado como fator central para o fortalecimento da saúde, informando sobre o que é e quais são os meios de prevenção combinada disponíveis no Sistema Único de Saúde e como acessá-los.

A segunda campanha trouxe uma mensagem de esperança diante de um eventual teste positivo, estimulando a adesão ao tratamento a partir de informações sobre sua eficiência e baixa toxicidade, proporcionados pelos avanços da ciência. Apesar de incurável, com tratamento oferecido pelo SUS, as PVHA podem ter qualidade de vida, reduzir a quantidade de HIV no organismo e até mesmo tornar o vírus indetectável e intransmissível. Esta segunda campanha foi protagonizada por pessoas reais vivendo com HIV, profissionais de saúde e parceiros/as da Gestos.

A terceira campanha, lançada ao final da live de entrega das recomendações, tem como foco a luta contra o estigma e o preconceito, buscando referência em grandes personagens da história da humanidade (como Martin Luther King e Nelson Mandela) e enfatizando suas mensagens de respeito, diversidade, sabedoria, liberdade, dignidade e amor. A campanha evidencia ainda a necessidade de ações afirmativas de garantia de direitos para as PVHA. Enquanto o vírus se combate com prevenção e tratamento, o ódio deve ser combatido com atitude e lei.

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