Associação de Médicos do Emílio Ribas manifesta-se contra ameaças

Fachada do Emílio Ribas (Foto: IIER)

Médicas e médicos do corpo clínico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER) estão sendo ameaçadxs pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, segundo afirma a Associação dos Médicos do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (AMIIER), em documento datado de 26 de março, divulgado nesta segunda-feira, 12 de abril.

Conforme a “carta aberta”, elaborada sob deliberação aprovada em assembleia da AMIIER, após publicações de mensagens em um grupo fechado de WhatsApp, usado por médicos e médicas do corpo clínico, alguns profissionais “foram chamados a prestar esclarecimentos à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP)”. Ainda segundo o documento da AMIIER, as mensagens “apontavam denúncias sobre a situação do hospital e críticas à gestão interna do IIER e da SES-SP”.

Com o título “Os médicos e médicas do Emílio Ribas não vão se calar!”, a AMIIER apoia a “averiguação da SES-SP sobre o conteúdo de mensagens públicas em redes sociais”. Para a associação de médicos, as mensagens “apresentam problemas que precisam ser resolvidos”.

No entanto, “médicos convocados pela SES-SP relataram que foram questionados sobre críticas à gestão do governo do Estado, com a apresentação de prints de mensagens no grupo de WhatsApp”, denuncia a AMIIER. “É imperativo saber como e quem acionou à SES-SP para abrir o processo 10420/2021 e quais são seus objetivos e alcances”.

A situação atual
Conforme disse uma médica infectologista com quem Saúde Pulsando conversou, do IIER só sobraram dois andares. Ainda segundo ela, o hospital dia (HD) e o ambulatório de tratamento ao HIV/aids ainda estão funcionando e sob administração direta do estado de São Paulo.

Porém, uma paciente do ambulatório enviou a Saúde Pulsando e-mails trocados com o IIER. Neles, ela diz que sua mais recente consulta com sua médica foi realizada em novembro do ano passado e que, depois de recuperar-se da covid-19 tem sentido que ficaram algumas sequelas.

Em e-mail de 6 de abril emitido por agendamento@emilioribas.sp.gov.br, da Central de Agendamento da unidade de saúde, o/a funcionário/a que o escreveu limitou-se a dizer que “devido a nova fase roxa, não esta sendo realizado agendamentos (sic). Sem previsão de retorno”, diz a mensagem eletrônica.

Em outro e-mail, de 15 de março, a Central de Agendamento do IIER informa que “devido a grave situação em que nos encontramos por conta da fase rosa, nosso ambulatório está fechado. Por esta razão, só voltaremos a agendar consultas a partir de 02/05/2021”.

“A assembleia Geral dos médicos do IIER repudia a postura policialesca do Governo do Estado de São Paulo; entende que o simples fato de convoca colegas para prestar esclarecimentos sobre opiniões e críticas gera constrangimentos com objetivo de intimidar e calar vozes contrárias à gestão vigente, sob ameaça de abertura de processos disciplinares”, esclarece a AMIIER.

Para a associação de médicos, as expressões de médicos em grupo de WhatsApp administrado pela AMIIER “buscam refletir os problemas do IIER, assim como é um espaço de desabafos frente à difícil situação da instituição”.

“O IIER encontra-se com leitos fechados por conta de uma obra que se arrasta há mais de seis anos. E mesmo havendo uma limitação física por conta da obra, uma boa parte foi reformada e poderia ser ocupada por leitos regulares. No entanto, isso não acontece por conta da falta de recursos humanos perdidos ao longo dos anos, devido à aposentadoria, demissões ou falecimentos, segundo a própria Diretoria Técnica do hospital”, diz um dos trechos centrais do documento da AMIIER.

Para finalizar sua “carta aberta”, a AMIIER afirma que “o Governo do Estado de São Paulo desestruturou serviços de saúde com sua política de enxugar serviços públicos. A pandemia de Covid-19 intensificou e explicitou esse desmonte”. Para o corpo clínico do IIER, a “situação tem que ser debatida e exposta”.

“Os médicos do IIER reafirmam sua vocação de serviço e compromisso de continuar no combate à pandemia de Covid-19, mas rejeitam qualquer tentativa de intimidação às opiniões do Corpo Clínico e exigem atenção às suas reivindicações: finalização da obra e concurso público já!”, finaliza a AMIIER.

Nesta terça-feira, Saúde Pulsando fará contato com a SES-SP e com a direção do IIER para saber e informar o posicionamento oficial sobre as novas denúncias – agora, de ameaças ao corpo clínico e sobre a interrupção do tratamento das pessoas vivendo com HIV e aids em seguimento na instituição.

Para ler a “carta aberta” da AMIIER, clique aqui.

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