"Continuarei a usar máscara", afirma Rafuska

Por Rafaela Queiroz

A foto não tem nada a ver com o que vou dividir com vocês… ou tem!

Mas falar de amor, este que é um amor próprio ligado ao autocuidado que demorei anos para entender, que faz parte de um conjunto de ações e escolhas.

Ontem eu fui a uma festa. Antes de chegar já fiquei bem apreensiva sobre comer ou não comer, beber ou não beber. Por que? Porque isso teria que me fazer tirar a máscara, o que me deixa ainda com sentimento muito grande de vulnerabilidade para me infectar com coronavírus.

Eu escolhi comer e beber, então era uma saga o tirar a máscara de um lado da orelha, comer ou beber e colocar de volta a máscara. Ainda sim fiz com medo!

Mas por que este medo, vocês devem me perguntar né? “Afinal, Rafa você já tomou as duas doses e tomará a de reforço?”

Todos sabem porque é público que eu tenho uma condição crônica, o HIV. E eu tenho ele aqui em alguns locais ainda no meu corpo e isso se dá por eu tomar um conjunto de remédios chamados ARV’s, que eu carinhosamente, para ressignificar essas drogas, passei a chamar de jujubas.

Pois é, eu tomo um conjunto de remédios diários e que já são 25 anos de uso, o que podemos dizer que é um longuíssimo tempo né? Agora, imagina a toxicidade com que meu corpo lida por anos? Agora, imagina o quando eu preciso estar atenta com meu rins, com meu fígado e tantas outras coisas!

Quando eu tenho uma gripe mais intensa, que gera uma sinusite, eu não posso tomar uma simples azitromicina, eu tenho alergia! Tenho que tomar um outro antibiótico que é mais forte, ou seja, que vai sobrecarregar meus rins e meu fígado! Assim, eu passei anos da vida tomando cuidado e tendo atenção com a minha saúde! Após eu entender sobre autocuidado são raras as vezes que eu preciso tomar antibióticos e anti-inflamatórios!

Aí veio o coronavírus, a COVID-19! O medo não mais era de morrer de AIDS, era morrer de COVID-19! Agora após vacinas, meu medo não é morrer de COVID-19 e pegar coronavirus e ter que tomar antibióticos, anti-inflamatórios e minhas jujubas por sei lar quanto tempo e ter complicações nos rins ou no fígado!

Então, eu seguirei ainda com medo de me infectar com coronavírus, logo, eu ainda usarei máscara e seguirei com os protocolos de cuidado! Porque eu não quero testar se meu corpo vai aguentar um vírus ainda tão novo que deixa tantas sequelas em pessoas que nem têm uma doença crônica! Eu tenho, eu sei da minha!

As pessoas podem usar ou não máscara, isso é escolha delas! Afinal a saúde é individual, mas quando se convive com pessoas com algum tipo de doença ou condição que requer uso de medicações contínuas pense muito bem em exposição cruzada!

Todas formas de amor valem, a minha vale! E meu amor também é cuidar da minha saúde e de quem vive ao meu lado.

“Rebeldes na Luta”, por Rafaela Queiroz
Rafaela Queiroz é psicóloga, pós-graduanda em psicopedagogia e ativista pelos Direitos Humanos e HIV/aids.


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