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Por José Carlos Veloso
Leitores e leitoras, a intenção aqui é falar em vacinas contra a tuberculose (TB). No entanto, devido ao atual cenário político esdrúxulo em que vivemos, vou tecer algumas considerações a respeito.
Para qualquer doença, pesquisas em vacinas requerem atenção minuciosa em relação às questões éticas e de segurança ao voluntário/a, participante da pesquisa, e à população que irá usar o produto (vacina) futuramente. O que temos visto na mídia em geral mostra uma busca quase que desesperadora por uma vacina contra a covid-19, o que é mais que compreensível, já que pessoas morrem diariamente e temos mais de 1 milhão de vidas ceifadas ao redor do mundo.
No entanto, não podemos tolerar: primeiro, que cientistas usem o fato da emergência e pulem etapas importantes de eficácia e segurança nas pesquisas para alcançarem um produto com mais rapidez. Segundo, também não podemos tolerar o uso político dos estudos para uma potencial vacina. Governantes, sem a menor ideia do significado dos cargos que ocupam, estão se apropriando da discussão para tirar proveito próprio nas eleições em curso e futuras.
Para além das pesquisas, discursos inapropriados e fora do contexto cientifico, estão causando impactados preocupantes nas campanhas de vacinas no Brasil e no mundo. O que vemos, nos dados apresentados pelo próprio Ministério da Saúde, é uma queda no número de cobertura vacinal para crianças inadmissível para um País que já foi considerando exemplo de imunização para o mundo. Estamos vivendo em um cenário onde distorcer a realidade virou moda, o que implica em tornar as crises sanitária e financeira que estamos passando, ainda mais difíceis em nossas vidas.
Neste contexto falar em uma vacina para tuberculose é quase uma ofensa, já que é uma doença que tem cura. Porém, algumas curiosidades saltam aos olhos. Por que temos dezenas de pesquisas para covid-19 em tão pouco tempo e para tuberculose (doença milenar) são tão escassas, já que são duas doenças respiratórias? A resposta parece ser bem óbvia, o novo coronavírus é muito mais contagioso e a doença causada (Covid-19) mata muito mais rápido.
No entanto, acredito que outros fatores também colaboram para a falta de incentivo a pesquisas de vacina para uma doença que também mata mais de 1 milhão e meio de pessoas por ano no mundo, segundo dados o Organização Mundial da Saúde – OMS. A relação da tuberculose com a pobreza parece ser um dos motivos. Sim, a tuberculose mata mais pessoas em países pobres; portanto, países sem condições financeiras para comprar uma vacina, caso ela exista, e sem muito interesse das grandes corporações farmacêuticas, ou seja, a vida de pobres não interessa muito.
A título de curiosidade, em 2021 a BCG, única vacina que evita a forma grave de TB em crianças, vai completar 100 anos. Em um século a ciência não conseguiu avançar para uma pesquisa preventiva de TB para adultos, ao contrário do que vemos com o novo coronavírus, causador da covid-19, parece que morrer de tuberculose tudo bem, uma vez que são pobres. Novamente comparando ao novo coronavírus, a primeira população atingida foi a classe média alta e branca, haja vista o continente europeu que sofreu e ainda está sofrendo com a pandemia.
Bem, não vou alongar muito a conversa, mas queria compartilhar com leitores e leitoras as diferenças e interesses entre as duas doenças (TB e covid), relacionadas ao desenvolvimento de pesquisas de vacinas para ambas, o que direta ou indiretamente colabora para marcar e fortalecer a desigualdade social no mundo.
“Holofote sobre a TB”, por José Carlos Veloso
José Carlos Veloso é Assistente Social e mestre em Saúde Coletiva.
É Coordenador da Rede Paulista de Controle Social da Tuberculose, membro do Comitê Estadual de Controle Social da Tuberculose – SES/SP, da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose – mobilização social, do Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em TB no Brasil. Escreve a coluna mensal "Holofote sobre a TB" de Saúde Pulsando.
jcveloso@saudepulsando.com.br
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