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Por José Carlos Veloso

Mais uma vez voltamos a conversar sobre os impactos da Covid-19 nos diagnósticos e tratamentos de Tuberculose. Chamo atenção para a importância deste tema por conta da semelhança de sintomas entre as duas doenças.

Neste mês de setembro foram apresentados dois inquéritos sobre os impactos da pandemia nos serviços de TB, um de âmbito internacional envolvendo vários países ao redor do mundo, impulsionado por movimentos internacionais da sociedade civil, e outro que tem mais a ver com nossa realidade, no estado de São Paulo, realizado pelo Programa Estadual de Tuberculose. Ambos com apontamentos semelhantes no que diz respeito ao acesso ao diagnóstico e tratamento da TB.

O primeiro destaque no inquérito de São Paulo foi a queda de números de casos novos no segundo trimestre de 2020 (Abril/Maio/Junho). Em relação ao segundo trimestre de 2019, houve uma queda de quase 30%, levando em conta a série histórica de notificação de novos casos nos últimos anos em que não há muita diferença de um ano para outro. Essa queda é muito alta e pode significar um prejuízo futuro (próximo) devastador nos serviços de TB, uma vez que essas pessoas que deixaram de ser atendidas estão, de alguma forma, transitando pelo mundo e transmitindo o bacilos da TB. No inquérito internacional essa porcentagem chega a ser ainda maior em alguns países, atingindo 80% de queda de realização de exames laboratoriais para o diagnóstico da TB. Temos aí um grande problema pela frente.

O diagnóstico tardio da TB sempre foi um problema para os serviços de saúde; é comum que pessoas com sintomas de TB inicialmente não busquem os serviços de saúde, tentando soluções caseiras ou autotratamento para gripes ou resfriados, já que os sintomas são parecidos (tosse, febre, cansaço, entre outros). Com o surgimento da pandemia e com os sintomas da Covid-19 também parecidos, pode causar um retardamento ainda maior, pois a atenção primeira será sempre para a Covid, ficando a TB em segundo plano no diagnóstico.

Outros fatores também podem ter influenciado nesta queda de diagnóstico para TB no mundo. O medo de buscar um serviço de saúde, o isolamento social, a queda dos recursos financeiros das pessoas, a falta de transporte, entre diversos outros fatores causados pela pandemia.

Como já foi dito por mim em colunas anteriores, e digo novamente, vamos enfrentar um retrocesso e um aumento significativo no número de casos de TB futuramente. O problema é: teremos serviços de saúde preparados para alcançar todos esses diagnósticos perdidos nos últimos meses ou durante a pandemia? Qual será a estratégia de busca ativa destes casos? Temos o entendimento do problema, mas não vejo propostas de solução. Governos, agências multilaterais (Nações Unidas, fundos internacionais, fundações privadas) e sociedade civil de todo mundo precisam urgentemente traçar coletivamente estratégias de recuperação desde cenário, caso contrário teremos mais vidas ceifadas pela TB, além de todas já causadas pela pandemia. Certamente voltaremos a este tema futuramente, pois a tendência é o agravamento da situação.

“Holofote sobre a TB”, por José Carlos Veloso
José Carlos Veloso é Assistente Social e mestre em Saúde Coletiva. É Coordenador da Rede Paulista de Controle Social da Tuberculose, membro do Comitê Estadual de Controle Social da Tuberculose – SES/SP, da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose – mobilização social, do Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em TB no Brasil. Escreve a coluna mensal "Holofote sobre a TB" de Saúde Pulsando. jcveloso@saudepulsando.com.br


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