Ativista José Araújo Lima Filho dá nome a CTA em São Paulo

O CTA José Araújo Lima Filho (Foto: reprodução)

Tem o nome do ativista José Araújo Lima Filho, o novo Centro de Testagem e Aconselhamento que a Coordenadoria de IST/Aids da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo inaugura nesta segunda-feira, 19 de setembro, em Campo Limpo, bairro da zona sul da capital paulista.

Embora a inauguração esteja marcada para 9h, o CTA vai funcionar de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, oferecendo à população testes de HIV, hepatites, sífilis e demais infecções sexualmente transmissíveis (IST), além de insumos como preservativos interno e externo, gel lubrificante e autoteste para a detecção do HIV, até 19h.

No CTA José Araújo Lima Filho, serviço do Sistema Único de Saúde (SUS) com administração direta da SMS, a população também terá acesso às profilaxias pré e pós exposição ao HIV, mais conhecidas por PrEP e PEP, respectivamente.

Quem foi José Araújo Lima Filho
Morto em decorrência de complicações relacionadas à aids em 3 de setembro de 2019, em São Paulo, o ativista José Araújo Lima Filho deu início à sua participação política no movimento pelas Diretas Já, em 1984, junto a milhares de brasileiras e brasileiros, contam as advogadas Áurea Abbade e Fátima Baião no livro “100 nomes que fizeram a história da luta contra a aids no Brasil”, publicado pelo Grupo de Apoio à Prevenção à Aids (GAPA) em 2010.

Segundo as autoras, Araújo viveu solitariamente com HIV por 5 anos, até chegar ao Grupo de Incentivo à Vida. “Depois de um ano de convívio”, no GIV ele “assumiu publicamente sua sorologia”, afirmam elas. Ainda no GIV, foi presidente por dois mandatos, em 1995 e 1998.

Em 1993, Araújo foi conferencista no Encontro de Pessoas Vivendo com HIV/aids realizado em Acapulco. Convidado da Conferência de Aids de Yokohama, em 1995 falou de “Portadores do HIV/Aids e a realidade em países em desenvolvimento”. No Japão, começou a trabalhar a resposta da comunidade nipo-brasileira lá residente contribuindo efetivamente a fundar diversos grupos de apoio a pessoas vivendo com HIV e aids (PVHA).

Em 2000, o ativismo de Araújo na ponte-aérea Brasil-Japão foi tema de documentário na rede de TV japonesa NHK. Nos anos de 2002 e 2003, foi conferencista no Peace Boat, no trajeto entre a África e o Brasil. Antes, foi tema do documentário “Vejo Flores em Você”, premiado no Festival MiX Brasil de Cinema, em 1994.

Em 1995, depois de participar de um encontro da Rede Mundial de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS, a GNP+, na sigla em inglês, trouxe para o VI Encontro Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids, o Vivendo, realizado pelos grupos Pela Vidda do Rio de Janeiro e Niterói, a ideia e a proposta de construção de uma rede de pessoas vivendo com HIV e aids no Brasil. Naquele encontro, surgiu a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS, hoje RNP+ Brasil.

Entre 1998 e 2000 e entre 2003 e 2005, ele representou as ONG/aids da Região Sudeste na Comissão Nacional de AIDS, a representativa Cnaids, comissão assessora do Ministério da Saúde que juntava as mais diversas vozes da sociedade para a construção da resposta brasileira à epidemia de aids, extinta em 2019 por decreto do atual presidente da República.

Durante anos, Araújo dedicou-se a atuar em comitês de ética em pesquisa com seres humanos, tendo sido presidente do Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos do estado de São Paulo e coordenador-adjunto da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), do Conselho Nacional de Saúde.

Autor do livro “Falando de AIDS – Falando de vida”, publicado em 1997 no Japão, o ativista escreveu artigo para o livro “Conversando sobre sexo”, de Marta Suplicy, entre tantos outros em livros e em periódicos de ONGs no Brasil e no Japão.

Depois de representar no Brasil a Associação François Xavier Bagnoud, entre 2001 e 2004 presidiu uma ONG com o mesmo nome na zona sul de São Paulo. A AFXB promoveu saúde, educação e os direitos humanos de crianças e adolescentes vivendo com HIV e suas famílias. Depois, fundou a Associação Espaço de Prevenção e Atenção Humanizada, o EPAH.

Toda a história de José Araújo Lima Filho no movimento social de luta contra a aids no Brasil esteve ligada ao acolhimento humanizado e à qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV ou com aids.

Na Associação EPAH, zona sul da cidade; no SAE Mitsutani ou no CTA Parque Ipê; na Conep, na Cnaids ou representando o Movimento Paulistano de luta contra a Aids na Comissão de DST/Aids do Conselho Municipal de Saúde de São Paulo, Araújo nunca foi de meias palavras.

Polêmico, não há quem, do início dos anos 1990 até o fim dos anos 2010, não tenha tido uma boa discussão com ele.

Aguerrido, Araújo era um ativista determinado. Tinha princípios e valores éticos sólidos. Nascido em Penápolis, cerca de 480 km da capital, foi um ser humano generoso com seus pares.

Com a homenagem da municipalidade, o CTA José Araújo de Lima Filho planta a semente da memória do ativista na comunidade da zona sul paulistana, sua base de atuação.

 

Inauguração do CTA José Araújo
Data: Segunda-feira | 19 de setembro
Horário: 9h
Local: Rua Louis Boulanger, 120
Jd. Bom Refúgio | Campo Limpo | São Paulo

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