ilustração Silvia Holme

Por Andrea Domanico

Afinal de contas será que todes nós sabemos o que são as hepatites virais?

Pois é, com a advento da epidemia de aids na década de 1990 e as estratégias de prevenção e de tratamento, criadas à época – e algumas eficientes até hoje, como a educação por pares –, uma outra doença se apresentou na linha de frente para os trabalhos de prevenção e de tratamento: as Hepatites Virais.

De início pouco falada pela sociedade, ganhou visibilidade com as pesquisas feitas entre Usuários de Drogas Injetáveis (UDI), como o projeto Ajude Brasil (1997), apontando um número substancial de UDI portadores de Hepatite C. Já a Hepatite B, infecção sexualmente transmissível, começava a ser abordada nas diversas intervenções sobre sexo seguro. Parte das discussões dos diversos movimentos sociais passa a ser a garantia da vacina contra a Hepatite B.

Os ditos grupos de riscos, conceito que evoluiu para populações vulneráveis, começou a ser abordado pelos diferentes atores nos trabalhos de prevenção e tratamento,  pois desta forma era possível se falar em situações de vulnerabilidade social, individual e programática a que as diversas pessoas estavam expostas. Este conceito amplo e abrangente diminuía os estigmas de diversos grupos e incorporava a todes como membros de uma sociedade diversa, passíveis de infeção frente a determinadas situações.

No início do século XXI, falava-se que as Hepatites Virais eram a epidemia do século. Apesar da vacina contra a Hepatite B já estar disponível nas UBS, um desafio ainda existia, as três doses – e as pessoas que não fizeram sua cobertura vacinal na infância ainda enfrentavam a dificuldade de conseguir terminar a vacinação. Já a hepatite C, por sua vez, transmitida preferencialmente por sangue, fez com que várias práticas de saúde fossem repensadas, como as práticas de manicures e pedicures, cabeleireiros e usuários de drogas nas suas mais diversas formas: injetáveis, aspiráveis e fumáveis.

Novos tratamentos vieram mais eficazes e disponíveis na rede pública, mas será que estamos de fato “livres” das hepatites virais? Será que nossas práticas cotidianas dão conta de tantas e diversas informações? Ficamos, então, com questionamentos de quanto de fato as doenças virais nos assustam.

“Conversa com Domanico”, por Andrea Domanico
Andrea Domanico é psicóloga, mestre em Psicologia Social (PUC-SP), doutora em Ciências Sociais (UFBA) e pós-doutora em Enfermagem Psiquiátrica (USP). É co-fundadora do Centro de Convivência “É de Lei” e foi assessora técnica em prevenção do Programa Nacional de Hepatites Virais do Ministério da Saúde.


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