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Por José Carlos Veloso

Com o agravamento da pandemia e a explosão do números de casos de covid-19 no Brasil, muitas expectativas relacionadas ao retorno da “vida normal” em 2021, foram por água abaixo. Aquele jargão “vai passar” parece não fazer mais sentido, à medida que vamos percebendo as diversas nuances da pandemia e as estratégias utilizadas para freá-la, com pouca aderência, em muitas vezes desqualificadas por políticos que por sua vez, também são desqualificados e adeptos ao genocídio.

Diante de tantas incertezas no que diz respeito ao fim da pandemia, ainda temos a constante crise na saúde pública. Com cortes no orçamento do governo federal, a falta de concursos públicos para completar o quadro de profissionais nas unidades básicas e nos serviços de especialidades, a pandemia sobrecarregou ainda mais, e por todos os lados todos os serviços públicos de saúde, desde o/as trabalhadores/as atingidos/as pela doença ao estresse acumulado devido à carga de trabalho, os cortes no investimento na área da saúde podem levar a danos irreversíveis no sistema público de saúde neste atual momento. Soma-se a tudo isso o constante medo de infecção pelo novo coronavírus e suas diversas variantes, anunciadas constantemente pela mídia nacional e internacional.

Aos usuários/as dos SUS em acompanhamento e tratamento de doenças crônicas, restou a responsabilidade do autocuidado, uma vez que as idas aos serviços de saúde tornaram-se verdadeiras aventuras, desde sair de casa e enfrentar o transporte público ao chegar nas unidades e manter os protocolos de distanciamento e higienização das mãos e pertences pessoais a todo momento.

Ainda não sabemos com precisão qual o impacto causado pela pandemia nos acompanhamentos de pessoas em tratamento para tuberculose, por exemplo, quantas pessoas deixaram de acessar os serviços para diagnóstico de TB e qual foi o efeito na qualidade dos tratamentos, pensando que as pessoas em tratamento para TB não somente tomam remédios, mas também comem, trabalham, estudam (quando podem), entre outras variáveis que conformam a qualidade de vida e a saúde mental, tão desejadas nos últimos tempos.

O impacto da pandemia na saúde mental dos/as trabalhadores/as da saúde e dos/as usuários/as em tratamento de doenças crônicas, ou mesmo doenças que necessitam de acompanhamento para a cura, como é o caso da tuberculose, ainda não são evidentes à população. Para simplificar a discussão podemos classificar os possíveis impactos em três etapas, uma com relação ao momento político e sanitário, com as regras, protocolos de distanciamento, falta de emprego, e piora das condições de vida. A segunda seriam as sequelas em decorrência da covid-19 para aqueles/as que passaram pelo processo da doença. E a terceira e mais cruel é a perda de pessoas próximas, sem direito a despedidas e luto.

Como lidar com situações no dia a dia das unidades de saúde e na vida das pessoas em tratamento para TB e outras doenças crônicas? Qual a estratégia da saúde mental, uma vez que é uma área fortemente abalada pelos cortes de financiamento público e, consequentemente, na manutenção de seus serviços especializados? Qual a estratégia de proteção social, pensando para além da saúde e do mísero auxílio emergencial? Esse último que cada vez menos pessoas tem acesso.

A verdade é que não existe um plano de fortalecimento dos serviços de saúde mental liderado pelo governo federal, ao contrário, o plano é de desmonte dos serviços e da política. É urgente a intersetorialidade e fortalecimento dos serviços. Corremos o risco de pagar uma conta que cresce diariamente, se os governos (municipais, estaduais e federal) não apresentarem um plano de recuperação da saúde pública com especial atenção a saúde mental e todos os seus agravos relacionados, entre eles a TB.

“Holofote sobre a TB”, por José Carlos Veloso
José Carlos Veloso é Assistente Social e mestre em Saúde Coletiva. É Coordenador da Rede Paulista de Controle Social da Tuberculose, membro do Comitê Estadual de Controle Social da Tuberculose – SES/SP, da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose – mobilização social, do Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em TB no Brasil. Escreve a coluna mensal "Holofote sobre a TB" de Saúde Pulsando. jcveloso@saudepulsando.com.br


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