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Por José Carlos Veloso

Quem acompanha a coluna já sabe, mas nunca é demais dizer que a tuberculose mata mais de 1 milhão de pessoas por ano. Em seu recente relatório mundial sobre tuberculose (out. 2020), a Organização Mundial da Saúde – OMS, chama atenção ainda para uma subnotificação que pode ultrapassar 3 milhões de casos, e que podem não terem sido diagnosticados ou não foram devidamente notificados nos sistemas de saúde ao redor do mundo. Oficialmente o relatório informa que em 2019 foram 10 milhões de casos de tuberculose no mundo.

Como estamos em dezembro, mês em que o dia 1º foi escolhido para chamar atenção do mundo para a AIDS, é mais do que relevante direcionar um olhar para os casos de coinfecção TB/HIV. O relatório da OMS aponta também que, entre as 1 milhão de pessoas mortas por conta da tuberculose, 208 mil eram pessoas vivendo com HIV/AIDS, ou seja, pessoas coinfectadas TB/HIV. Esses dados não são muito diferentes dos anos anteriores e isso implica numa situação muito alarmante, pois não estamos conseguindo diminuir o número de infecções e, consequentemente, o número de mortes por tuberculose e/ou em decorrência da coinfecção TB/HIV. Esses números são inadmissíveis, uma vez que estamos falando de uma doença que tem tratamento e cura, como é o caso da tuberculose e outra que tem tratamento, como a AIDS.

O Brasil está entre os 22 países com maior número de casos de tuberculose e que somando concentram 90% de casos em todo mundo. Com a crise mundial da saúde que estamos enfrentando, corremos o risco de aumentar o número de casos de tuberculose por dificuldade de acesso aos serviços de saúde, principalmente nos países mais pobres, onde os serviços já apontam pra um colapso. O mesmo pode acontecer com o diagnóstico e tratamento para o HIV/AIDS.

Autoridades também chamam atenção para o número de casos de tuberculose entre crianças, por conta das mesmas dificuldades de acesso a serviços de saúde, crianças que não têm acesso a vacina BCG e são contatos de pessoas com o bacilo da tuberculose ativo no organismo, geralmente familiares. Um estudo da Stop TB Partnership, instituição que trabalha para a eliminação da tuberculose, vinculada a Organização das Nações Unidas – ONU, mostra que até 2025 teremos um acréscimo de mais de 6 milhões de novos casos de tuberculose no mundo, uma grande parte em decorrência do impacto da pandemia do novo coronavírus nos serviços de saúde e pelo aumento da pobreza extrema, resultado da junção crise de saúde & crise financeira.

Temos sinais de tempo turbulentos pela frente, em especial para o Brasil, com um governo (federal) negacionista, onde cargos importantes de decisão politica em várias áreas assistenciais são preenchidos por pessoas sem nenhuma capacidade ou visão de proteção social. A pandemia não poderia ter vindo em pior hora para nós. Enquanto outros países traçam seus planos de vacinação levando em consideração os diversos cenários de vacinas candidatas para a Covid-19, o governo brasileiro fica para trás na discussão, expondo a população ao agravamento da pandemia e consequentemente a outros agravos como tuberculose e HIV/AIDS.

“Holofote sobre a TB”, por José Carlos Veloso
José Carlos Veloso é Assistente Social e mestre em Saúde Coletiva. É Coordenador da Rede Paulista de Controle Social da Tuberculose, membro do Comitê Estadual de Controle Social da Tuberculose – SES/SP, da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose – mobilização social, do Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em TB no Brasil. Escreve a coluna mensal "Holofote sobre a TB" de Saúde Pulsando. jcveloso@saudepulsando.com.br


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