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Por Paulo Giacomini

A macaquita sumiu. Ficou com raivinha porque eu disse a ela que não tinha mais quem me fizesse trabalhar aos sábados e aos domingos. Ela subiu pelas paredes, fez suas macaquices costumeiras, comeu duas bananas, me deu uma banana e sumiu.

Nem sei por onde ela saiu porque a casa tem tela até nas fechaduras das portas, que é pro Fred não bater pernas por aí, achar o amor da sua vida e nunca mais voltar.

A verdade é que o jeito estabanado da macaquita me fez passar pelo menos duas vergonhas homéricas. Da segunda vez eu disse pra ela que não ia mais fazer live nenhuma, que ela só sabia me fazer passar vexame com sua falta de jeito, ansiedade e voracidade para com o mundo externo.

Aí tive que dizer pra ela que aquilo tudo tinha me dado uma travada, que eu estava com minha criatividade comprometida e que, se eu já não gostava de transcrever áudios de entrevistas, transcrever aquela live depois de toda a vergonha que passei seria impossível. Simplesmente não aconteceria.

Ela me olhou, virou a cabeça coçou de um lado, coçou de outro e deitou. Quando acordei, não encontrei a macaquita. Alguns meses depois me convenci que ela não voltaria mais, como não voltou. Deve ter ido atazanar outras cabeças.

A travada criativa durou uns dez dias. Depois passou. E voltou novamente. Ela vai, vem. Um dia vai se juntar à macaquita. O importante é que só quando voltei ao Saúde Pulsando que percebi o trabalho bonito que estava fazendo. E resolvi desacelerar pra poder ter prospecções melhores.

Ah, se alguém vir a macaquita, salve-a. E depois, diga que ela foi muito importante pra mim. Ela salvou a minha vida. Te amo, macaquita. Até qualquer hora.

“Diário da Macaquita”, por Paulo Giacomini
Jornalista, começou criando o jornal da empresa em que trabalhava. Da faculdade foi direto pra Coluna Gay da Revista da Folha, da Folha de S.Paulo, onde colaborou com Poder, Esporte, Turismo e Ilustrada. Trabalhou na G Magazine, fez cobertura de carnaval pra Coluna do Gugu e ajudou a criar OFuxico. No movimento de aids, escreveu, editou, fotografou, produziu e deu forma a diversas publicações. Fez especialização e mestrado em Informação e Comunicação em Saúde no Icict/Fiocruz e foi Secretário de Informação e Comunicação da RNP+BRASIL. Vive com HIV/AIDS desde 1984. É diretor de Saúde Pulsando.


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