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Por Andrea Domanico
Esta pandemia do Covid-19 trouxe a pauta da vacina para as discussões da população como um todo. Estamos ansiosas pelas pesquisas e pelo anúncio de uma vacina. Não entramos ainda na discussão de quem terá acesso a ela e muito menos de como será feita a hierarquia de distribuição. Tá certo, uma coisa por vez...
No que tange as Hepatites Virais temos vacinas eficientes e disponíveis no Sistema Único de Saúde, para as Hepatites A e B. Então, por que ainda temos o desafio de 100% de cobertura vacinal para ser alcançado?
Podemos elencar alguns motivos... A vacina da Hepatite A, por exemplo, já está disponível para as crianças de até dois anos em todas as Unidades Básicas de Saúde, temos observado que quando é possível oferecer imunização na tenra infância a cobertura aumenta substancialmente, ou seja: “a vacinação de crianças de 1 a 2 anos contra Hepatite A é uma forma de prevenir o desenvolvimento da doença, sobretudo na fase adulta”. A vacinação de adultos tem critérios e não está disponível a todes; alguns grupos mais vulneráveis têm acesso mediante avaliação médica específica e ainda assim não temos a imunização de todes... Segundo o próprio Ministério da Saúde, “ainda estão em busca de estudos e pesquisas que nos forneça as evidências necessárias para o aumento da faixa etária preconizada para vacinação considerando a contaminação pela prática sexual desprotegia (oro-anal)”.
Sobre a vacina da Hepatite B, disponível desde a década de 1990, a cobertura vacinal entre os jovens de até 21 anos ainda não atingiu 100%, ou seja, acima de 90% em 19 estados e de 80% nos restantes, de forma que nosso desafio está na vacinação das pessoas acima de 21 anos, que tem uma cobertura que varia: acima de 90% em dois estados, acima de 50% em cinco e, entre 27% e 49% nos restantes. Com o objetivo de barrar a transmissão vertical, o Ministério da Saúde está pactuando com cada estado metas para aumentar a vacinação para meninas e mulheres de 10 a 49 anos (idade reprodutiva).
Para a Hepatite C ainda não temos vacinas e as práticas de prevenção para evitar o contato com sangue contaminado ainda é a forma mais eficaz de prevenção.
Então a questão continua: o que faz clamarmos por um imunobiológico? Por que não temos esta cobertura de 100% para uma doença que pode ser fatal? Acredito que o fato das Hepatites Virais, serem doenças “invisíveis” para muitos – pois pode ter uma evolução lenta –, ter um tratamento disponível no SUS pode estar contribuindo para algumas displicências... Então, fica a dúvida: vacinas, para que te quero?
“Conversa com Domanico”, por Andrea Domanico
Andrea Domanico é psicóloga, mestre em Psicologia Social (PUC-SP), doutora em Ciências Sociais (UFBA) e pós-doutora em Enfermagem Psiquiátrica (USP). É co-fundadora do Centro de Convivência “É de Lei” e foi assessora técnica em prevenção do Programa Nacional de Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
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