Quarta dose chega sem restrições; nem todas PVHA querem “expor” diagnóstico

Profissional de saúde prepara dose de vacina (Foto: Freepik))

Depois do esquema vacinal que inicialmente restringia às pessoas vivendo com HIV ou aids (PVHA) com CD 4 menor ou igual a 250 e, depois, para a dose de reforço, a quarta dose da vacina contra a covid-19 chega sem restrições. Todas as pessoas vivendo com HIV ou com aids devem tomar a quarta dose a partir do 121º dia após ter tomado a terceira dose – reforço.

No entanto, a procura pelas duas primeiras doses foi pequena. E, ao que parece, diminuiu ainda mais pela terceira dose.

No Centro de Referência e Treinamento em DST/AIDS de São Paulo (CRT-DST/AIDS-SP), cerca de 15 mil PVHA – em tratamento ou que retiram seus antirretrovirais na farmácia –, a demanda pela vacina foi menor do que o esperado. “Menos de 30% do que era esperado”, afirma Alexandre Gonçalves, diretor técnico do maior ambulatório da cidade de São Paulo.

Para a imunização, o CRT reservou o auditório – cujo acesso foi separado da entrada rotineira. Devido à baixa demanda, a segunda dose foi aplicada na sala de vacinas, infinitamente menor do que o auditório. Por causa disso, houve dificuldade do serviço negociar a aplicação da terceira dose em suas dependências.

Em enquete feita por Saúde Pulsando, 2% das PVHA respondentes não pretendiam tomar a vacina. “Não vacinei ainda. Complicado. Pra ter acesso você precisa revelar sua sorologia no PSF do bairro. Cidade pequena, sabe como é... vou esperar pela idade”, disse uma PVHA à época em que a enquete esteve disponível para respostas.

Das PVHA que já haviam tomado pelo menos uma dose da vacina, 26% enfrentaram dificuldade para recebe-la. “Exposição”, “quebra de sigilo sorológico”, “exigência de laudo médico” foram os motivos mais relatados. Outros 21% tiveram que disponibilizar cópia do documento de identidade.

“Na primeira dose da vacina retiveram meu laudo médico. Ao tomar a segunda dose perguntaram em qual faixa eu me encaixava. Tive que falar que era portadora do HIV”, relatou uma usuária.

“Para a vacinação, passei por 3 ‘barreiras’ formadas por profissionais de saúde. Todos pediram os documentos e laudos. Antes de ser vacinado, a enfermeira perguntou em voz alta a comorbidade. Não havia ninguém na sala. Achei desnecessário perguntar isso, pois isso já estava na documentação. A impressão foi que ela não acreditou que eu era uma pessoa vivendo”

“No posto onde devo tomar a vacina, eles fazem uma fila do lado de fora e um técnico vai verificando se você levou os documentos necessários. Porém, tudo isso ocorre sem respeitar a privacidade, ali mesmo você tem que falar a sua comorbidade em alto e bom som e acaba que outros da fila ouvem”, relatou uma PVHA respondente.

Entre as PVHA que responderam a enquete de Saúde Pulsando, 25% se declararam do sexo feminino, 73,5% do sexo masculino e 1,5% responderam outros. Na amostra, 21% não residiam nas capitais.

Segundo os locais de vacinação, 64% responderam que foram vacinadas em um ponto de vacinação ou drive, 21% em posto de saúde, 12% em um serviço de referência e 3% em outros locais.

Segundo as PVHA respondentes, 89% receberam a vacina da AstraZeneca, 4,5% a CoronaVac e 6% a vacina da Pfizer.

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