Gordo, o casal Suleiman e a turma do Unaids (Fotos: P. Giacomini)
ONG reúne 50 pessoas em estúdio de SP para levar o vídeo às suas ações de prevenção em 2022
Por Paulo Giacomini
Foi uma festa. Mais do que isso, foi uma grande festa a que o Barong promoveu na última sexta-feira (17) num estúdio na zona sul de São Paulo. No evento, gestores e pessoas vivendo com HIV e aids (PVHA), ativistas, representantes de organizações não governamentais (ONG) e do Unaids no Brasil, profissionais de saúde e pesquisadores do campo do HIV/aids foram reunidos simplesmente para cantar.
As gravações do “Barong Vermelho, o Musical”, juntou 50 pessoas para cantar e se divertir, fechou o Dezembro Vermelho da ONG. Foi uma homenagem àquelas que, durante a pandemia, se reinventaram, enfrentaram as adversidades e arregaçaram as mangas para olhar pro outro – ou pra outra – mais vulnerável do que ele ou ela mesmo havia ficado.
Separadas por turmas, vestidas com a cor vermelha ou branca, elas foram chegando pouco a pouco. Dirigidas à maquiagem, entraram no estúdio de gravações quando estavam prontas. Lá, o ator e diretor Tadeu di Pietro rapidamente ensinava alguns exercícios de respiração. “Com esse exercício, dificilmente vocês vão ficar sem fôlego no meio de um verso”, orientava ele.
Mas, as pessoas sabiam cantar? “Tinha muita gente desafinada, inclusive eu”, diz Marta Mc Britton, presidente do Barong. “Essa ousadia de cantar e desafinar, pensando em tudo o que é o movimento social, é uma mescla, é uma outra música.”
“A proposta do Barong Vermelho contribui para a integração do movimento social, fortalecendo o exercício da cidadania, para a construção de políticas públicas baseadas no amor, na fraternidade e numa política de paz”, explica a artista plástica Adriana Bertini, diretora de projetos da ONG.
Na direção das câmeras e das cenas estava o renomado diretor Ricardo (Gordo) Carvalho. Você até pode não saber quem é, mas se lembrar dos bichinhos de pelúcia nas propagandas de uma marca de laticínios italiana, sabe que o cara é craque. “Eu não me sinto contribuindo com nada na propaganda, onde a gente tem uma realização financeira”, diz Gordo abertamente. “Participando desse tipo de trabalho eu me sinto contribuindo com alguma coisa e isso eu acho muito importante, já dá uma outra satisfação.”
E se no começo as turmas estavam mais nervosas e tímidas, no final tudo rolou em clima de descontração e brincadeira de roda, como uma música cantada pela Elis. Não, ninguém cantou nenhuma música dela. Mas, as quatro cantadas visitaram a MPB, do samba ao rock, passando pelo reggae. No vídeo você vê.
É, é no vídeo que você vai ver este repórter cantando ao lado da direção do CRT-IST/aids de São Paulo; vai ver a voz afinada da cidadã positHIVa Maria Elisa Silva cantando ao lado da arte-educadora Carlla Juliano, da Anima, vai ver a Fabi Mesquita, do Instituto Multiverso, cantando reggae, o Américo Nunes Neto do Instituto Vida Nova e a Silvinha Almeida, a turma do Unaids Brasil cantando ao lado do casal Suleiman. Babado! Do bem, obviamente.
O que se sabe do vídeo é que será publicado em 2022 nas redes sociais do Barong. E também ajudará nas ações de campo, cujas intervenções são feitas a bordo da unidade móvel da ONG, atualmente uma van com a tradicional camisinha inflável de 5 metros de altura.
Pandemias de vulnerabilidade
Por falar nas ações de campo, durante a pandemia de covid-19 o Barong continuou seu trabalho, na medida do possível. Em 2018-2019, fez 7.829 testes de HIV com detecção de 126 casos. Nos anos da pandemia (2020-2021) foram 1.865 testes de HIV que detectaram 41 casos. E, de 25 de novembro a 15 de dezembro fez 1812 testes de HIV, dos quais 54 obtiveram sorologia reagente. O boletim epidemiológico de HIV/aids do Ministério da Saúde, divulgado no Dia Mundial de Luta contra a AIDS, registrou 32.701 novos casos de HIV e 29.917 casos de aids em 2020.
Durante a pandemia, o Barong distribuiu cestas básicas de alimentos e higiene, ofereceu ajuda psicológica, facilitou o acesso a insumos de prevenção (autoteste para detecção do HIV, preservativos externos e internos), máscaras, álcool em gel, acesso à terapia antirretroviral, entre outras iniciativas. Vale ressaltar o comprometimento dos profissionais de saúde dos serviços especializados em HIV/aids, cujo desafio de manter o isolamento social das PVHA confrontava-se com a adesão ao tratamento (retirada de medicamentos, realização de exames, consultas e afins).
“Quando você cuida de pessoas é importante saber quem são essas pessoas e como elas vivem. Tratar doença é fácil, qualquer manual dá a receita. O difícil é tratar de pessoas, não necessariamente doentes”, opina o médico infectologista Jamal Suleiman, há 37 anos trabalhando na assistência às pessoas vivendo com HIV ou aids. Para ele, “estar aqui hoje é mais uma forma de cidadania, de participação, de entender essas dinâmicas, porque não está contando a história de uma pessoa, está contando a nossa história.”
Durante todo o Dezembro Vermelho, o Barong esteve nas cinco regiões da cidade de São Paulo, onde atua, principalmente, ofertando testes de detecção do HIV, das hepatites virais B e C e da sífilis. Também distribuiu o calendário de vacinas para PVHA e cards com a história do laço vermelho, criado em solidariedade às pessoas afetadas pela pandemia de aids no mundo.
O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) no Brasil apoiou a iniciativa. Para a assessora de apoio comunitário do órgão da ONU, Ariadne Ribeiro, o evento mostra que “a gente deve estar vivo, feliz, cantando, brincando, juntos, pessoas que vivem com HIV e pessoas que nos apoiam na nossa causa, mesmo que não vivam com HIV, todos juntos. Isso quebra estigma e é isso o que a gente precisa”.
“Eu acho que as pessoas, quando estavam cantando, meio que se despediram dessas trevas que foram esses últimos anos com ideia de renovação. Eu senti isso em muitas vozes aqui”, finaliza Mc Britton.
Barong Vermelho, o Musical
Coordenação geral: Marta Mc Britton
Produção Executiva: Adriana Bertini
Direção: Ricardo (Gordo) Carvalho
Captação de depoimentos e vídeos: Jennifer Besse
Fotos e making of: Luigi Bertin
Realização: Instituto Cultural Barong
Apoio: UNAIDS Brasil
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