O bacilo da tuberculose no pulmão Doctor vector created by vectorjuice - www.freepik.com
Por José Carlos Veloso
Esse é o segundo ano em que o Dia Mundial pelo Fim da Tuberculose (TB), 24 de março, acontece no contexto da pandemia do novo coronavírus. Hoje temos a dimensão do estrago da pandemia na saúde pública e, em especial, para o fim da TB. Minha intenção não é fazer um discurso repetitivo, pois já temos outros textos aqui na coluna que abordam toda a questão dos determinantes sociais da TB no contexto da pandemia (se não leram, por favor leiam). Agora que sabemos o tamanho do estrago, incluindo aí o aumento da pobreza e da pobreza extrema. Não só Brasil, mas em várias regiões e países do mundo. É necessário pensarmos em estratégias para mitigar, ou seja, abrandar o impacto inevitável na vida das pessoas e, no nosso caso, nas metas pelo fim da TB, acordadas em instâncias das Nações Unidas e seus respectivos representantes, os/as Chefes de Estado, em 2018. Para tanto, é necessária a imediata retomada do acompanhamento das metas, partindo do nível nacional até o território (região, município, bairro) utilizando as ferramentas disponíveis, ou promovendo espaços de discussão e articulação, comissões e frentes parlamentares no âmbito legislativo (assembleias legislativas e câmaras municipais de vereadores/as).
O relatório anual de TB da Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que uma das primeiras ações que os governos precisam garantir é o acesso aos serviços de saúde para as pessoas que procuram ou estão em tratamento para TB. Esta também é uma preocupação nacional, principalmente agora, que os serviços estão sobrecarregados com a vacinação e com a demanda de usuários/as com suspeita de infecção pelo novo coronavírus. Isso não é fácil. Mas, também não é impossível manter serviços de qualidade, o que implica na possibilidade de maior adesão ao tratamento.
Com o aumento das emergências nos serviços de saúde, outra preocupação da OMS é que muitas pessoas podem deixar de ser diagnosticadas e isso necessariamente vai implicar num aumento de casos de TB nos serviços, num futuro próximo. Ou seja, o estrangulamento da saúde pode ser ainda pior. O rastreamento de novos casos (busca ativa) ainda é uma estratégia de sucesso; diagnosticar precocemente a TB é uma ação de prevenção e de cuidado, principalmente entre as pessoas vivendo com HIV/Aids e contactantes (familiares, crianças e pessoas mais próximos à pessoa diagnosticada com TB).
Enfrentamos uma das piores crises de saúde em toda nossa história. Se não agirmos agora, os impactos para além da saúde pública serão quase que irreparáveis, pois corremos o risco de pagar a conta com vidas, ou seja, com mais vidas. E isso é imperdoável para os governos ou para qualquer nação. Já sabemos que para o fim da TB são necessárias ações conjuntas e multisetoriais (o que chamamos de proteção social).
“Estamos ficando sem tempo para cumprir os compromissos globais de erradicar a tuberculose. Mesmo enquanto lutamos contra o COVID-19, não devemos diminuir a luta contra a TB, mas redobrar os esforços para salvar mais vidas e acabar com o sofrimento”, disse a Dra. Tereza Kasaeva, Diretora do Programa Global de TB da OMS. “Precisamos de vontade política e responsabilidade, recursos financeiros, envolvimento de todos os setores e propriedade da comunidade, e precisamos disso agora. O tempo está passando!” (Relatório de TB da OMS, 2020)
“Holofote sobre a TB”, por José Carlos Veloso
José Carlos Veloso é Assistente Social e mestre em Saúde Coletiva.
É Coordenador da Rede Paulista de Controle Social da Tuberculose, membro do Comitê Estadual de Controle Social da Tuberculose – SES/SP, da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose – mobilização social, do Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em TB no Brasil. Escreve a coluna mensal "Holofote sobre a TB" de Saúde Pulsando.
jcveloso@saudepulsando.com.br
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