Divulgação

Por Vanessa Campos

O estupro e gravidez da criança de 10 anos e seu direito ao aborto me trouxeram à memória as três vezes que engravidei e as discriminações que sofri enquanto mulher HIV+.

O conservadorismo, aliado ao fundamentalismo religioso, exerce o controle dos nossos corpos há séculos e, consequentemente, ditam como, quando e com quem podemos exercer nossa sexualidade e também quem não tem esse direito.

O machismo estrutural, que rege todo esse sistema, sujeita meninas à subserviência doméstica e a estupros sistemáticos cometidos por quem deveria protegê-las. Reina o silêncio sepulcral em nome da família e dos bons costumes.

Quando vêm à tona todo o massacre, a vítima ainda é sistematicamente culpabilizada e brados dos ditos “servos de Deus” a chamam de assassina porque se nega a gerar em seu ventre infantil o fruto do estupro.

Trazendo para a vivência HIV+, o caminho inverso também é de dedos em riste, culpabilização e discriminação. Dizem:

Se tem HIV não pode engravidar!
Vai ser mãe pra quê?
Como você teve coragem de engravidar sabendo que sua criança pode nascer com HIV?
Deixa essa aidética por último e coloca numa sala isolada pra não “contaminar” ninguém (na sala de pré-parto).
Quando for ao banheiro, leva essa garrafa de água sanitária e desinfeta tudo por onde você passar.
Não peguem nesta criança sem luva (se referindo à criança de mãe HIV+).

Estas foram algumas das muitas palavras que me foram ditas.

Assim, mulheres seguem sendo culpabilizadas, julgadas, condenadas e mortas – física, mental e socialmente – sem o direito de decidir sobre seus corpos.

Até quando?!

Pela vida das mulheres, hoje e sempre!

“Cor de Rosa-choque”, por Vanessa Campos
Vanessa Campos, 49 anos, mulher, mãe, vive com HIV/AIDS há 31 anos. É representante estadual da RNP+ Amazonas, secretária nacional de informação e comunicação da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+ Brasil) e idealizadora da fanpage Soroposidhiva.


Compartilhe nas redes sociais: