Foto: FGV

Por José Carlos Veloso

Poderia iniciar este simples artigo relatando os dados de tuberculose (TB) no mundo e no Brasil, assim o farei logo mais abaixo, por ora gostaria de iniciar destacando o momento atual em que vivemos. A pandemia causada pelo novo coronavírus (Covid-19) e quais as implicações frente à prevenção e tratamento de outras doenças, em especial a TB. Acredito que todos nós já tivemos a oportunidade de observar, por meio dos noticiários, discursos, debates, fóruns, lives etc., as previsões catastróficas de especialistas em finanças para a economia num futuro bem próximo, causados pela Covid-19. Até aí já sabemos. Mas o que isso tem a ver com a tuberculose, doença de fácil diagnóstico e tratamento barato na rede pública?

A tuberculose é uma doença com uma relação muito estreita com os determinantes sociais da saúde, isso que dizer que a população mais afetada pela tuberculose no Brasil e no mundo é a que está em desigualdade social, ou seja, os pobres. E, seguindo a estratificação, a população em situação de rua, população carcerária, a população que vive em comunidades com alta concentração de pobreza, a população negra...

Então, se vivemos numa perspectiva de crise econômica, a probabilidade de aumento da pobreza é certa; pior ainda, o aumento da pobreza extrema, pessoas sem ter onde morar, o que comer e sem acesso a programas de saúde e/ou programas socioassistenciais. E tudo isso causado por uma crise na saúde que por sua vez foi causada por um vírus. Só para entender a importância da saúde pública no mundo.

Seguindo o raciocínio, se a tuberculose é uma doença com fortes traços de desigualdade social (leia-se pobreza) a probabilidade de termos um aumento nos casos de tuberculose é bem grande. Isso posto, importante termos uma visão geral da TB no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), temos 7 milhões de novos casos de TB no mundo a cada ano, com mais de 1 milhão e meio de mortes. No Brasil foram 73.864 novos casos e 4.600 mortes em 2019 por uma doença com tratamento disponível na rede pública de saúde do País. Isso é vergonhosamente um atestado de incompetência do sistema público de proteção social, incluindo aqui a assistência social e a saúde, na atenção à camada mais pobre da população brasileira.

Talvez, com o advento da pandemia da Covid-19, os dirigentes mundiais retomem a discussão sobre a importância da saúde “pública” no mundo, com um entendimento mais abrangente de proteção social e acesso universal, mas isso é só uma esperança.

Por enquanto nos resta monitorar as políticas públicas já existentes no sentido de assegurar que essas não sejam prejudicadas pela crise presente e futura. E olha que nem toquei no tema coinfecção TB/HIV, outras comorbidades e populações, deixo isso para as próximas publicações.

Abraços de um novo normal!

 

“Holofote sobre a TB”, por José Carlos Veloso
José Carlos Veloso é Assistente Social e mestre em Saúde Coletiva. É Coordenador da Rede Paulista de Controle Social da Tuberculose, membro do Comitê Estadual de Controle Social da Tuberculose – SES/SP, da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose – mobilização social, do Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em TB no Brasil. Escreve a coluna mensal "Holofote sobre a TB" de Saúde Pulsando. jcveloso@saudepulsando.com.br


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