Ilustração Silvia Holme

Por José Carlos Veloso

A tuberculose é uma doença conhecida há anos, durante muito tempo foi considerada “mal dos séculos”, isso porque atravessou séculos sem cura e, durante muitas décadas, foi reputada como a doença de boêmios, poetas, compositores e artistas que viviam da arte e cultura, ou seja, a velha tentativa de culpabilizar o desejo e o prazer, assim como foi e ainda é feito com a AIDS.

Hoje vivemos um outro cenário, a tuberculose está diretamente relacionada a pobreza e desigualdade social; assim como a AIDS, afeta a camada mais pobre e, portanto, mais vulnerável da população. Mas a relação entre a tuberculose e a AIDS não para por aí, a tuberculose é uma das principais causas de mortes entre pessoas vivendo com HIV/AIDS. Por isso, a importância de todas as pessoas que vivem com HIV/AIDS façam o teste tuberculínico (PPD), para identificar se a pessoa teve contato com o bacilo de Koch, a bactéria que causa a tuberculose. Há orientações específicas de tratamento preventivo caso o teste tuberculínico seja reagente, o importante é o dialogo com o profissional de saúde sobre a realização do teste e esclarecer dúvidas a respeito.

O tratamento preventivo para tuberculose oferecido no SUS envolve um medicamento, tem a duração de 6 meses e não pode ser interrompido. Porém, efeitos colaterais podem dificultar na adesão e no término do tratamento. Embora existam medicamentos que possibilitam um tempo menor de tratamento e menos efeitos colaterais, esses ainda não estão disponíveis na rede pública e, segundo o Ministério da Saúde, passam por processos burocráticos de compra e não têm data definida para disponibilização.

Uma outra questão, agora política, é que o Brasil tem casa vez menos inovação tecnológica pública para fabricação de medicamentos, cada vez mais dependente do cenário internacional o do setor privado. Com a conjuntura atual causada pela Covid-19, que provavelmente causará um tsunami de pobreza pelo mundo e o Brasil não vai escapar, políticas de proteção, prevenção e assistência não podem faltar. Tanto a AIDS quanto a tuberculose irão sofrer sérios impactos e corremos o risco de regredir algumas décadas por conta do caos financeiro que está por vir.

Penso que o alerta não é somente para as pessoas que vivem com HIV/AIDS e as afetadas pela tuberculose, mas para todo/a cidadão e cidadã que usa o Sistema Único de Saúde, o apoio ao fortalecimento do controle social é fundamental neste momento delicado de crise democrática e financeira.

“Holofote sobre a TB”, por José Carlos Veloso
José Carlos Veloso é Assistente Social e mestre em Saúde Coletiva. É Coordenador da Rede Paulista de Controle Social da Tuberculose, membro do Comitê Estadual de Controle Social da Tuberculose – SES/SP, da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose – mobilização social, do Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em TB no Brasil. Escreve a coluna mensal "Holofote sobre a TB" de Saúde Pulsando. jcveloso@saudepulsando.com.br


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